História da Umbanda

A Umbanda é uma religião brasileira, que foi anunciada e fundada em 15 de Novembro de 1908, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e, como toda religião, em sua origem a Umbanda incorporou conhecimentos religiosos universais pertencentes a muitas outras religiões e culturas, sendo, muitas vezes, interpretada apenas como uma releitura das demais, o que não vem a ser um fato.


Tudo se iniciou em uma família tradicional, militarista e católica, de Niterói (RJ), que foi surpreendida por ocorrências que tomou aspectos sobrenaturais. Saudável, o jovem Zélio Fernandino de Moraes fora, inexplicavelmente, acometido por ataques e uma estranha paralisia,  que fez com que sua família o levasse a um tio psiquiatra que, após inúmeros exames, lhes dera um diagnóstico de plena sanidade. Sem saber mais o que fazer, a família do menino buscou pela ajuda de um padre que realizou um exorcismo, sem obter sucesso.

No dias que se sucederam, o jovem Zélio ergueu-se do leito e declarou "Amanhã estarei curado". Levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada tivesse lhe tirado os movimentos e a medicina não soube explicar o que havia acontecido. Os tios e os sacerdotes católicos, surpreendidos, nada esclareceram, então, um amigo da família sugeriu que fizessem uma visita a Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza.

O jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar a mesa. Dominado por uma força estranha, superior a sua vontade e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer um dos componentes da mesa, Zélio se levantou dizendo "Aqui esta faltando uma flor" e saiu da sala indo ao jardim, voltando com uma flor, que depositou no centro da mesa.

Sua atitude causou um breve tumulto e quando os trabalhos foram restabelecidos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios, que foram convidados a se retirarem advertidos de seu atraso espiritual.

Novamente uma força estranha dominou Zélio e ele falou, sem saber o que dizia. Apenas ouvia a sua própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a não aceitarem a comunicação daqueles espíritos e do por que serem considerados atrasados, apenas por encarnações passadas que revelavam.

Um médium vidente perguntou:

"Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e que sua veste branca reflete uma aura de luz? Qual o seu nome, irmão?"

E o espírito desencarnado falou:

"O que você vê em mim são restos de uma existência anterior, fui padre e meu nome era Frei Gabriel de Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Santa Inquisição em Lisboa. Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa do meu aparelho para dar início a um culto em que esses irmãos poderão dar as suas mensagens e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber o meu nome, que seja esse: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados."

O médium perguntou com ironia ao Caboclo:

"Julga o irmão que alguém irá assistir ao culto?"

E o espírito, já identificado, disse:

"Cada colina de Niterói atuará como porta voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."

No dia seguinte, na casa da família Moraes, os membros da Federação Espírita se reuniram para comprovarem a veracidade do que havia sido declarado na véspera. Estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Por volta das 20h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que, naquele momento, se iniciava um novo culto em que os velhos africanos, que haviam sido escravos, e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste Culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processariam o culto, onde, os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome ao movimento religioso que se iniciava de "Umbanda".

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque "assim como Maria acolheu o filho Jesus nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou conforto". A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião, formando novos sacerdotes e ordenando a abertura de novas casas.


Anos depois, o comando da TNSP passaria a sua filha Zilméia de Moraes, que a presidiu até meados de 2000. A Tenda Nossa Senhora da Piedade continua aberta até hoje, se puder, faça uma visita!

Em 1971, a Sra. Lila Ribeiro - Presidenta da Tenda de Umbanda Luz, Esperança e Fraternidade - gravou uma mensagem do Caboclo Sete Encruzilhadas:

"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre, aos companheiros de muitos anos, que a vil moeda vai prejudicar a Umbanda. Os médiuns que irão se vender, mais tardes serão expulsos.

Umbanda é caridade, amor e humildade - esta é a nossa bandeira. Sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós. É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenham boas comunicações e proteção para aqueles que vem em busca de socorro nas Casas de Umbanda.

[...] Com um voto de paz, saúde e felicidade. Com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo Sete Encruzilhadas."

Desde que se iniciou, rapidamente se enquadrou dentro do contexto nacional brasileiro e se propagou, gerando um interesse mundial, sendo alvo de estudos e até de teses, onde tentam por vários meios explicar o fenômeno, que facilmente se conclui pertencer a outras esferas de atividades da vida.

A Umbanda prega a existência de um Deus único e tem nessa sua crença o seu maior fundamento religioso, ao qual não o dispensa em nenhum momento nos seus cultos religiosos e, mesmo que reverencie as Divindades, os espíritos da natureza, não os dissocia do nosso Pai Maior. 

É uma religião voltada somente para o bem, onde as sessões devem ser gratuitas não podendo atender a interesses particulares.Tem como lugar religioso o templo, centro, tenda ou terreiro, o local no qual os umbandistas se encontram em sessões, giras ou cultos para promover atendimentos espirituais por meio da incorporação dos seus guias.

Gosto de dizer, assim como um dia ouvi, que a flor que Zélio foi buscar naquele dia e que o Caboclo disse que faltava, era a flor do inexplicável, do amor. Pouco a pouco, vamos nos tornando capazes de entender que essa flor reside e sempre residiu em nós. Nós somos a flor. Nós somos amor. Nós somos Umbanda.


História da Umbanda
Alexandre Cumino
Editora Madras

ANOTA AÍ - DICA DE LEITURA: 

Sobre esse assunto, recomendo a leitura do livro "História da Umbanda" escrito pelo Pai Alexandre Cumino e publicado pela Editora Madras. Nessa obra, além de conhecer toda história e trajetória da nossa religião, adentramos no estudo de suas origens e na etimologia de seu nome. 




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