Ética Umbandista

Este é um assunto do qual acredito que todos deveriam falar abertamente, afinal, do ponto de vista da Filosofia, a Ética estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos desde os primórdios dos tempos, sendo responsável por nortear a conduta humana no seu convívio e manter um bom equilíbrio e funcionamento social.

Notem que acima quando me refiro à ética de um determinado grupo não tenho a intenção de falar unicamente na facilidade de convivência, mas também no sentimento de justiça social que ela proporciona: até onde vou sem prejudicar o outro? Sim, essa reflexão é essencial a qualquer um de nós como indivíduo e sociedade, e como um indivíduo participante de uma sociedade.

Não seria diferente com a Umbanda, e se tratando de Umbanda, aqui estamos nós para falar dela! Prontos?

Uma das coisas BEM marcantes que lembro minha Yaya explicar logo no meu comecinho na religião foi sobre como me portar em outra casa. Acredite, pode não parecer de muita importância, mas é de imenso valor. Naquele momento ela estava me ensinando a Ética Umbandista, que usaria para toda minha vida. Isso me faz pensar que talvez muita conduta antiética seja apenas falta de informação, ou não. De qualquer forma, fazemos nossa parte.

Estive lendo um texto do Pai Paulo Ludogero publicado pelo Umbanda eu Curto no qual ele traz para nós alguns pontos interessantes sobre a Ética Religiosa:

[...] Se um médium está visitando outro Terreiro, pode ser por vários motivos:

Foi convidado por amigos, pura curiosidade, busca por uma palavra amiga, ajuda na Curimba, procura por cursos, entre outros.

Se você faz parte da recepção de seu Templo ou já fez alguma vez, verá que Paulo listou para nós os cinco principais motivos de procura a Casa em que se frequenta, e que esta é verdadeira.

[...] Mas em todas as situações, a conduta sacerdotal deve ser sempre a de ser neutro, pois ela será o espelho da religião. Se forem identificados visitantes de outras Casas, que estejam ou não de passagem, devemos recebê-los com respeito e harmonia, pois independente do que buscam, são irmãos de fé.

A nós não cabe julgar, nunca coube. Tenha respeito.

Entretanto, assim como existem médiuns que agem de forma ética, muitos o fazem de maneira antagônica:

 [...] Médiuns do Terreiro desprovidos de ética e respeito começam a visitar Terreiros sem ao menos comunicar seus sacerdotes e estes ficam sabendo por terceiros.

Não, isto não é proibido, afinal, a Umbanda é uma religião de liberdade, mas seria muito bacana e ético da sua parte contar para aquele que dedica tempo cuidando de você e da sua espiritualidade, de sua visita.

[...] Médiuns que se acham autossuficientes convidam médiuns da Casa para participar de Giras em sua Casa ou chamam médiuns da corrente para fazerem trabalhos de descarrego e desobsessão seja onde for e não comunicam seus sacerdotes.

Seu sacerdote está pronto para lidar com isso, ele é a melhor pessoa para te instruir quanto a trabalhos e limpezas de qualquer tipo. Tenho certeza que ele ou ela te ajudará no que for possível. Conversar é sempre a melhor saída!

[...] Médiuns mais velhos que deveriam dar o exemplo de humildade e receber com amor e orientar irmãos mais novos se sentem ameaçados e maltratam os irmãos mais novos.

Já vi também, e aqui está um problema razoavelmente grande. Acredite: é comum e não deveria ser. 

Não digo somente no quesito de ego e vaidade, mas penso muito no quesito da comodidade. Sim, é cômodo estar cômodo, ou seja, tudo sempre no mesmo lugar. Precisamos estar abertos ao novo, tentar aprender com quem chegou e orientar da melhor forma possível, entender que o Templo é um local público e não exclusivo, que visa ajudar a quem procura e que a religião é para todos.

Quanto aos médiuns que chegam aos terreiros, estes muitas vezes sofrem com arrogância de sobra e falta de humildade. Tudo é um período de adaptação e é preciso estar disposto a conhecer o novo, trocar experiências e manter uma convivência positiva. Esta Casa com certeza não será igual aquela ali ou aquela outra, mas o que juntos podemos somar, fazer pelo próximo e levar da religião?

Qual o seu posicionamento com o médium que chega ou como tal? Como me sentiria?
PENSE! Tenha empatia!

[...] Médiuns insatisfeitos com a conduta do sacerdote, ao invés de conversar diretamente com o mesmo, inflamam suas insatisfações com outros médiuns, dando inicio à FOFOCA.

Triste! Não há nada mais desagradável e destruidor do que a fofoca, principalmente quando este é sobre o Dirigente da Casa, alguém que cuida dos seus e zela por você.

Você aceitou estar ali, aceitou trabalhar naquele lugar sagrado, cuidar e ser cuidado, então, se o seu coração diz que é hora de ir, saia pela porta da frente, converse com seu sacerdote ou o Guia Chefe, peça agô e agradeça, afinal, você pode precisar voltar!

[...] Todo médium ao sair de uma Casa, deveria sair pela porta da frente. Do mesmo modo como entrou, pedir a benção, guardar para si o que foi bom e o que não foi deixar na Casa, e não sair comentando e difamando-a, pois enquanto frequentou lhe serviu.

Eu quis compartilhar estes trechos com vocês, porque eu achei que de forma simples ele conseguiu ser claro, conseguiu abordar temas importantes que dizem respeito à ética e que são quase que cotidianos em nossos terreiros, em nossa religião. Mas quero ir além, quero que você venha comigo para um dia de trabalho, esteja por um momento dentro de uma gira:

Aqui iremos começar pela pontualidade, isso também é ética. Se você tem um compromisso com sua espiritualidade, honre-o e se não puder comparecer, avise um dos responsáveis com antecedência. Você com toda certeza fará falta.

Ocupe com responsabilidade e zelo os cargos e as funções a que for eleito (se membro da Diretoria) ou designado cumprindo seu “mandato” até o final. Todos contam com seu comprometimento, irmão!

Mantenha sigilo sempre! 
Todos contam COM você e não PARA você, por isso nada foi visto e nem ouvido, lembre-se disso!

“Somos pontos de paz, irmãos de alma e até mesmo um amigo confidente já não mais existente. Somos a ética umbandista de ajudar e não julgar, de ouvir e nunca contar e de explicar sem se cansar. Somos médicos da alma, usando branco por amor, por paixão, sentindo e vivendo a Umbanda com o coração.”
(Manuela Campero)

Somos médiuns, irmãos, membros de um mesmo templo sagrado e de uma mesma religião, por isso, nunca devemos negar auxílio material ou mediúnico a ninguém, principalmente para aqueles que fazem parte de uma mesma corrente. Calma, não estou falando para dar dinheiro, ceder todo seu material ou algo do tipo, estou apenas dizendo para ser dedicado, solidário e ajudar sempre que possível.

Falando exatamente nisso: o homem é aquilo que irradia!
Somos médiuns 24 horas por dia e não somente no terreiro, cuidado! Por isso, quando for participar dos trabalhos, faça seu preparo e lembre-se que você faz parte de uma corrente, estão todos juntos no mesmo barco.

Empenhe-se em aperfeiçoar-se moral e espiritualmente. Seja autocrítico o suficiente para conhecer seus pontos negativos e trabalhar cada um deles, mas não se esqueça de amar-se.

“Dedique-se inteiramente para que os trabalhos possam correr de maneira disciplinada e harmoniosa, e por ocasião dos mesmos, mantenha silêncio, postura e concentração.”

Psiu, silêncio irmão!
Se você não sabe a importância do mesmo, convido-o a ler a matéria sobre!

E por fim, não menos importante: respeito a todos os reinos da natureza, locais de onde provém a energia usada pela magia dos Orixás. Sim, nossa religião respeita a natureza e se preocupa de todas as maneiras com a “ecologia” de seus trabalhos. Lixo é no lixo!

Tenho certeza que o mais importante não são os bens materiais entregues e sim a fé e o amor que estes são depositados em cada um deles. Às vezes uma simples prece e um pedido de agô podem ter muito mais valor do que pentes e colares, por exemplo. Pense e repense!

De maneira alguma quero impor verdades a você, leitor, mas gostaria de pedir que refletisse sobre cada um dos pontos discutidos nesta matéria, sobre a ética umbandista até então pouco discutida.

“A Umbanda nos traz magia em seus fundamentos e mistérios em seus princípios, conhecidos e dominados somente por quem faz questão de viver a religião em sua plenitude, de sentir e valorizar todas as experiências por ela proporcionada, isso implica saber retribuir com amor toda a ingratidão a nós direcionada...”
    (Manuela Campero)               
                              
Não julgue, respeite. Com toda certeza, se fizermos nossa parte, um a um faremos a diferença.


E para você? O que é Ética Umbandista?

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